O
Equador pediu ao mundo que pagasse para ajudar o país a manter 20% das suas
reservas de petróleo enterradas na Amazônia, num dos locais com mais
biodiversidade do planeta. Precisava de contribuições no valor de 3600 milhões
de dólares, mas apesar de uma intensa campanha internacional, não conseguiu mais
do que 13 milhões, e o Presidente, Rafael Correa, acaba de pedir autorização ao
Parlamento para abrir os lotes ITT do Parque Yasuní à exploração
petrolífera.
O
Presidente, Rafael Correa, anunciou a sua decisão num discurso na televisão e,
ao dar por terminada a Iniciativa Yasuní ITT, disse esperar conseguir 18 mil
milhões de dólares com a exploração de petróleo nos lotes ITT (as iniciais de
Ishipingo-Tambococha-Tiputini). Esse dinheiro seria usado “para vencer a
miséria, especialmente na Amazónia, que regista o maior índice de pobreza”,
escreveu no Twitter.
Alguns
dos lotes ITT ficam em zonas protegidas porque são território de povos isolados,
índios que vivem sem contacto com o resto da civilização. Por isso, a
Constituição do Equador, que contém artigos garantindo a protecção da natureza e
dos povos indígenas, exige que o Parlamento aprove o avanço da exploração
petrolífera naquele recanto do Parque Yasuní — onde já há anos se tira petróleo
da terra, mas noutros locais.
As
críticas de organizações ambientalistas e sociais, e de cientistas, mobilizados
desde 2007 para defender o Yasuní, choveram sobre Rafael Correa, que quis criar
no Equador a sociedade do Sumak Kawsay — o viver bem, inspirando-se num conceito
de um povo indígena. Correa diz ter sido traído pela comunidade internacional:
“O mundo abandonou-nos”, afirmou.
Nos lotes ITT estão reservas de cerca de 846 milhões de barris de petróleo. O plano que o Equador tinha proposto era que outros países pagassem a Quito metade do valor que poderia ser gerado por estas reservas durante dez anos, para manter o petróleo enterrado debaixo da exuberância de verde e de floresta alagada que funciona como um refúgio para tantas espécies da Amazónia.
Nos lotes ITT estão reservas de cerca de 846 milhões de barris de petróleo. O plano que o Equador tinha proposto era que outros países pagassem a Quito metade do valor que poderia ser gerado por estas reservas durante dez anos, para manter o petróleo enterrado debaixo da exuberância de verde e de floresta alagada que funciona como um refúgio para tantas espécies da Amazónia.
Estima-se
que ali existam cem mil espécies de insectos, e que o Yasuní seja o local com
mais espécies do planeta. “Mas a maioria dos insectos que recolhemos são muito
pequeninos, caberiam na cabeça de um alfinete”, explicou ao PÚBLICO, em 2011,
David Romo, em Quito, na sede da organização não governamental norte-americana
Finding Species. Romo é co-director da Estação de Biodiversidade de Tiputini, da
Universidade de San Francisco de Quito, uma das duas instalações de investigação
científica que existem no parque.
E
não é só em insectos que o parque é rico: uma análise publicada em 2010 na
revista Public Library of Science One por cientistas norte-americanos e
do Equador concluiu que o Yasuní é tão especial porque ali se sobrepõem quatro
zonas de biodiversidade recorde: de anfíbios, aves, mamíferos e plantas
vasculares (árvores e outras plantas com leninha, como as lianas).
Esta
era a oferta especial que o Equador colocava no mercado ambiental internacional:
nestes 0,5% da bacia Amazónica concentra-se grande parte da variedade de
espécies da floresta: 137 de anfíbios, 211 de mamíferos, 601 de aves, e mais de
4000 espécies de plantas vasculares. Um hectare de floresta de terra firme no
Yasuní deverá ter mais de 655 espécies de árvores e mais de 900 espécies de
plantas vasculares, no total.
Mas
a comunidade internacional nunca manifestou grande entusiasmo neste negócio —
encarado por muitos como uma espécie de chantagem.
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