Divulgo a seguir a Carta Aberta do Movimento Passe Livre de Joinville sobre a
formação da Conferência da Cidade.
Esta carta foi lida na reunião do dia 20/03/2013 pelo representante do
Movimento Passe Livre na reunião do dia 20/03/2013 da Comissão Preparatória da
Conferência da Cidade, Sr. André Altmann.
A carta será anexada a Ata da reunião deste dia e foi publicada no blog deste
movimento - http://mpljoinville.blogspot.com.br
Carta aberta sobre a formação da Conferência da Cidade
Nós do Movimento Passe Livre vimos a público através dessa carta destinada ao
povo de Joinville a fim de alertar sobre algumas coisas que serão ditas logo
mais quando for anunciada a nova Conferência da Cidade, destinada a eleger os
novos representantes do novo Conselho da Cidade pelos próximos 3 anos. Dirão com
a boca cheia, como já foi dito dentro da comissão que deliberou sobre o Conselho
da Cidade, que o Conselho é “estupidamente democrático” e representativo. Quanto
à estupidez, preferimos não usá-la para definir a democracia, e quanto à
democracia preferimos ser mais sóbrios e afirmar que não é de modo tão
democrático que esse conselho se estrutura.
Nós participamos sim do processo de formação dessa conferência. Participamos
e fomos vencidos pelo poder econômico, aliado ao Poder Público e seus demais
burocratas. Muito se falou da defesa do bem da cidade, acima dos interesses
políticos, se tentou convencer de que ninguém tem o rabo preso com ninguém, que
a neutralidade é a base das relações entre esses setores. Tentou-se, mas não se
conseguiu, não a nós. Afirmamos que há sim interesses, acordos e cartas marcadas
em todo esse processo. Nada surge do nada, tudo é fruto da história, assim como
essa comissão hoje é fruto de criticas públicas, em jornais e outros locais, e
processos judiciais de ontem. As composições, escolhas de nomes e votos, são sim
fruto de uma história, que está intimamente ligada com a composição dessas
entidades e com o próprio Poder Publico que hoje tem a sua frente o empresário e
ex-presidente da ACIJ (Associação Empresarial de Joinville), por vários anos,
Udo Döhler.
Tentamos sim radicalizar a democracia dentro do conselho da cidade,
defendemos que a votação fosse definida por segmentos, mas aberta de forma
direta a toda população. Defendemos que todos deveriam estar representados em
seus segmentos, que os trabalhadores deveriam votar em seus sindicatos, os
profissionais em suas entidades representativas, e assim por adiante. Fomos
vencidos pela burocracia, onde só as entidades poderão escolher quem será
conselheiro da cidade, pouco importando se essas entidades na prática são
representativas ou são apenas mais um papel registrado em um cartório qualquer.
Todos os segmentos terão esse critério, exceto os Movimentos Populares, onde
todos e todas munícipes poderão votar sem restrição alguma, não importando se
são empresários, burocratas ou o povo. Muito se perde nesse processo e abre-se
brecha para os demais lacaios do poder econômico que estão há anos dentro de
entidades fantasmas entrarem com muita força na disputa dessas cadeiras,
retirando assim legítimos representantes dos Movimentos Populares do conselho.
Assim, na teoria, poderá se defender que o conselho é democrático, mas na
prática se terá um ninho de cobra, pronto para defender os interesses dos de
cima.
Nós votamos de forma coerente na abertura direta do voto em todos os
segmentos, sem medo da democracia, sem medo do povo, mesmo sabendo que talvez
ali estivéssemos caindo em uma bela armadilha arquitetada com muito cuidado.
Outros dirão, como já nos disseram nos corredores dessas votações, que votamos
assim pois somos jovens. E mesmo não sendo mais tão jovens como há 8 anos atrás,
quando fundávamos o MPL nessa cidade, onde jurava-se que não nos criaríamos,
muito menos resistiríamos às primeiras perseguições e ameaças as nossas
integridades físicas e psicológicas. Mas aqui estamos, um pouco mais duros,
menos românticos, nem tão jovens, mas também nem tão velhos, e afirmamos que não
temos vergonha de nossa idade e nossa história. Pois se é esse mundo baseado na
violência e exploração que os velhos nos dão, tomamos aqui e agora a
responsabilidade de reconstruí-lo, desde o inicio, se necessário. Mas sabemos
que nem todos os velhos são dotados do medo, da mentira e do dom da manipulação,
lembramos aqui de nossos pais, nossas mães, os velhos e velhas do povo, muitos
velhos parecidos com alguns outros velhos que encontramos aqui e outros que já
desistiram (talvez por uma melhor clareza que a nossa) desse espaço burocrático.
Os velhos de baixo, do qual muitos conseguimos convencer com nossas falas, a
esses velhos nos juntamos e os convidamos para reconstruir tudo.
Mas o fato é que de jovens e velhos muito se falou por medo. Medo do povo, de
seus movimentos, medos esses alimentados no imaginário dos de cima desde a greve
de 1917 que, ao contrário do que gostariam e nos tentaram omitir, Joinville
também foi palco de lutas. Com isso tremem e tem pesadelos até hoje com cada
resquício que hoje ecoa no povo e suas lutas do presente, que o passado nos
inspira.
Irão comparar Joinville com o restante do Brasil, dirão que aqui sim se vive
a democracia. Para esses diremos outra coisa, ainda com um pouco mais de
sobriedade, talvez adquirida em nossas caminhadas pelos bairros pobres e favelas
dessa cidade, nas filas do SUS que alguns de vocês só conhecem pela televisão,
nas salas de aulas sem carteiras, nos ônibus lotados de todas as manhãs. Para
esses diremos que isso só mostra o quanto temos que avançar para que alcancemos
uma real democracia, o quão longa é nossa caminhada.
Por fim, como última cartada midiática, dirão que serão feitas 8 audiências
públicas nas subprefeituras da cidade. Tão midiáticas como as audiências
públicas realizadas ano passado sobre a licitação do transporte coletivo, as
quais tudo já estada traçado e definido, onde falamos para paredes, onde não
tiveram nem vergonha de rir em nossa cara. Ao que tudo indica, com a
continuidade da presidência do IPPUJ (Fundação Instituto de Pesquisa e
Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville) é que aqui nada
muda, e a prática como sempre, não tarda, vem para nos ajudar em nossa
argumentação teórica. Afirmamos aqui e não iludimos o povo: tudo está definido,
e nada se mudará.
Aqui estamos, de forma pública, falando ao povo, que não se iludam com o novo
Conselho da Cidade. Nós dizemos que ainda continuaremos a participar dessa
comissão e tentaremos participar do Conselho da Cidade, mas de forma lúcida,
sabendo de suas limitações, mas também de forma crítica, pontuando dentro dele
até seu esgotamento, mostrando suas limitações e seu verdadeiro caráter. Não
dizemos para os demais Movimentos Populares nem para fazer o mesmo que nós, nem
para não fazer. Participem se quiserem, e se não, como poderemos dizer que sua
posição está equivocada diante desse jogo de cartas marcadas? Para os Movimentos
Populares apenas dizemos: tenhamos clareza do que representa esse Conselho.
Tenhamos maior clareza ainda onde realmente está a verdadeira democracia.
Lembramos de cada assembléia de nossos movimentos e entidades, cada ato e
manifestação que pinta essas praças de nossa cidade com rostos e cores como os
nossos após o soar do sino de nossas senzalas dos tempos modernos. Lembremos que
cada vez que cruzamos os braços ou paramos o trânsito para que a maioria possa
ser ouvida sobre essa minoria que há séculos detém o poder e nos explora
enquanto classe. Tenhamos clareza que é nesses espaços físicos e temporais que
ao nos entendermos como irmãos, como classe, ao experimentarmos e erramos, ao
aprendermos a falar sem medo, que reconstruímos a democracia, uma democracia
plena. É ali que forjamos outro poder, diferente do econômico, que depende do
Estado e seus mecanismos de repressão para se sustentar. Forjamos um poder do
povo, um Poder Popular.
Movimento Passe Livre,
Joinville, 20 de março de 2013
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