Dos R$ 240 bilhões
repassados ao banco pelo governo federal, 64% foram destinados para projetos de
grandes empresas
RAQUEL LANDIM - O Estado
de S.Paulo - 09.07.12
O
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está utilizando a
maior parte dos recursos subsidiados que recebeu do Tesouro para financiar
empresas poderosas como Petrobrás e Vale. Dos R$ 240 bilhões repassados ao
banco, 64% foram aplicados em projetos de grandes empresas. A informação consta
de relatório produzido trimestralmente pelo BNDES e entregue ao Congresso. Na
versão mais recente, que engloba os recursos recebidos entre janeiro de 2009 e
março deste ano, a lista de empresas beneficiadas pelos financiamentos inclui
gigantes como Fibria (celulose), Oi (telecomunicações), Ford e Fiat
(montadoras). O dinheiro repassado pelo governo ao BNDES é subsidiado pelo
contribuinte porque os juros cobrados pelo banco das empresas são menores que as
taxas pagas pelo Tesouro para obter esses recursos no mercado. Levantamento
feito pelo governo e enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU) estima o custo
do subsídio em quase R$ 23 bilhões apenas no ano passado. Para o professor do
Insper, Sérgio Lazzarini, as grandes empresas tem acesso a outras fontes de
financiamento e não vão deixar de investir sem o apoio do BNDES. Ele avalia que
esse é um dos motivos pelo qual o banco estatal cresce, mas a taxa de
investimento não reage. "É a lógica dos campeões nacionais. A visão de que o
Estado é indutor do crescimento e o BNDES é o instrumento", diz Felipe Salto,
economista da Tendências.
Polêmica. Desde que o Tesouro
iniciou os repasses ao BNDES para amenizar os efeitos da crise global, o tema
gera polêmica. O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti,
defende que o subsídio é necessário para financiar o investimento, que é uma
atividade de risco. "Não é porque grandes empresas recebem recursos, que as
pequenas ficam de fora", diz. Com os repasses do Tesouro, o BNDES apoiou 666.561
projetos -62% desse total provenientes de pequenas e médias empresas. Para Júlio
Sérgio de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), as pequenas e médias empresas se retraem na crise e cabe as
grandes sustentar o investimento. "As grandes empresas investem e aumentam a
demanda por produtos das pequenas e médias." Em nota enviada ao Estado, o BNDES
afirma que o comportamento dos desembolsos de recursos provenientes do Tesouro é
similar aos dados gerais do banco. Nos desembolsos totais, as grandes empresas
também representam 64%. O BNDES sustenta ainda que a participação das micro,
pequenas e médias (36%) atingiu a maior proporção relativa da história. A
indústria da transformação recebeu a maioria dos recursos do Tesouro (40,2%),
seguida pela infraestrutura (37,2%). A concentração geográfica é grande, com
66,2% dos recursos para Sul e Sudeste.
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