7 de junho de 2012

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM JOINVILLE/SC



FLÁVIA CRISTINA ANTUNES DE SOUZA
A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM JOINVILLE/SC: DESAMONTOANDO CONCHAS E EVIDENCIANDO MEMÓRIAS


Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em História, Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.


Orientador: Prof. Dr. Antonio Cesar de Almeida Santos


As condições do ambiente acabavam exigindo soluções interessantes de acordo com relatos de moradores da região do Boa Vista. 


Claudete Schoen


Os trabalhadores da Fundição Tupy enfrentavam grandes dificuldades para irem ao trabalho, apesar da proximidade aparente: Quando enchia a maré, as 4:00h da manhã, quando eles iam para a Tupy, eles tiravam a calça, iam só de Zorba até ali em cima. Levavam um pano, levavam a bicicleta, meias e chegavam ali em cima, fora d’água, se vestiam, se limpavam e iam para a Tupy. 


Outras situações domésticas também implicavam em tomar medidas que amenizassem o desconforto provocado pelo mangue: Para as crianças dormirem, eu queimava uns panos para espantar os maruins. 


As crianças, para irem à escola, também enfrentavam adversidades, como recorda, os maruins. Maruíns são mosquitos que se encontram a beira mar e ao longo das margens de lagos e rios.

Maria Hubner: 


Era só mato. Para levar meus filhos no ponto de ônibus, eu tinha que calçar uma bota e levar um balde de água junto, para eles lavarem os pés, calçarem as meias e entrarem no ônibus. Agora, tu vês que situação que eu cheguei aqui!
Assim, embora as adversidades fossem muitas, sempre encontravam meios de superá-las. O ambiente era inóspito, mas a vontade de não voltar para a roça, e de ter um emprego fixo e casa própria movia essas pessoas a persistirem. Se fosse necessário chegarem bem arrumados ao trabalho, à escola, ou ao centro da cidade, um pano e um balde de água ajudavam a enfrentar o mangue.

Tendo em conta a relação das pessoas com o meio ambiente, Célia Lucena destaca suas ações em lidarem com os elementos naturais de um local para transformá-lo num ambiente cultural.


A vida da população está intimamente relacionada às peculiaridades físicas do meio ambiente, sendo, freqüentemente influenciada por elas; sua história pode ser explicada desde os fatores geográficos, afetando as condições originais de povoamento, até as forças centrífugas de hoje.

No mesmo momento em que algumas famílias de migrantes recém chegadas do norte do Paraná, os conhecidos "mãos rochas"  ao Bairro Espinheiros,  entravam em contato com um ambiente totalmente desconhecido de suas experiências anteriores, deparavam-se com uma montanha de conchas de aproximadamente 10 metros de altura: o “casqueiro”. Casqueiro  é uma das formas populares de se referir aos sambaquis, que, são sítios arqueológicos constituídos de restos alimentares, artefatos e esqueletos humanos, deixados por populações pré-coloniais que ocuparam praticamente, todo o litoral brasileiro, mas de forma bastante expressiva o litoral catarinense.

A partir de então, aquelas pessoas passavam a fazer parte do mesmo  lugar escolhido pelos sambaquianos de 5.000 AC e, após adquirirem, legalmente ou não, um terreno, cada família iniciava a construção de sua casa. As casas tinham que ficar sobre trapiches altos, a fim de evitar a entrada da água das marés e dos caranguejos. E para combater a umidade dos terrenos, os novos moradores cobriam-nos com material retirado do “casqueiro”

Fonte: Acervo MASJ.

 LUCENA, Célia. Linguagens da memória. São Paulo: FDE. Diretoria de Projetos Especiais, 1991. p. 14.


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