O ENG. QUIMICO ROLF EUGENIO FISCHER, PELA PASSAGEM DO DIA DO QUIMICO, ENTREVISTADO ASSIM SE POSICIONOU:
Repórter -O que o Professor acha da contribuição do
profissional da química para o bem da sociedade?
Fischer – Acho que está sendo muito significativa. A
sociedade tem se beneficiado e muito das contribuições destes profissionais, com
resultados no avanço do bem estar das pessoas. Veja por exemplo no campo dos
fármacos, onde é grande a participação dos profissionais da química,
principalmente quanto à formulação de novos remédios, fruto da pesquisa
intensiva ocorrida nestes últimos anos. Novos remédios têm sido lançados no
mercado com eficiência de cura e outros minimizadores da dor, causada pelas
doenças. Isso tudo vem dando esperanças ás pessoas para um viver melhor, gerando
um aumento na vida media da população. Não só na farmacologia como citei, mas em
tantos outros campos onde o químico está presente, como na energia dos
combustíveis, agricultura-alimentação, saneamento, petroquímica, etc., e
incrível, até na eletrônica dos chips.
Repórter – E, quais são esses mecanismos utilizados
pelos profissionais da química para atingir cada vez mais a eficiência e a
eficácia nesses campos que foram citados?
Fischer – Embora não
seja privilégio somente dos profissionais da química, mas de todos os demais
profissionais de outras áreas, tanto de nível superior como técnico, é o
desenvolvimento dos saberes na aplicação e na criação de novas técnicas de
aprimoramento aplicáveis em processos nas linhas de produção, como também nas
áreas de gerenciamento.
Repórter – O
Professor poderia citar quais seriam estas técnicas de
aprimoramento?
Fischer – Eu diria que estas técnicas estão
fundamentadas cada vez mais nos programas da qualidade. Desde o fim da II
guerra, iniciado por Deming no Japão se vêm implementando programas de qualidade
nas empresas em todo o mundo. Esses processos chamados genericamente de
“melhoria contínua” evoluíram desde os Círculos de Controle de Qualidade -
CCQ, passando pelos processos de
Qualidade Total – QT, Gerenciamento da Qualidade Total - TQM, Reengenharia e
ultimamente nas técnicas chamadas de Gerenciamento de Projetos - MP. Assim, a empresa que não tenha
implementado hoje um programa de qualidade sente dificuldade, cada vez maior, em
se manter no mercado tão competitivo.
Repórter – O Senhor
se referiu a aplicações de várias filosofias da qualidade em processos
produtivos e quanto à qualidade das pessoas, dos profissionais? Professor
Fischer.
Fischer - É ai que eu sempre questiono. Essa é a minha
batalha quando implemento programas da qualidade como consultor. Os empresários
priorizam a qualidade na matéria-prima, no processo, no produto final, na
pós-venda, em toda a cadeia produtiva, deixando sempre de lado o Recurso Humano
em segundo plano. Esse foi o grande erro do Programa de Reengenharia no passado,
que faliu, deixou de ser aplicado, pois não incluía o recurso humano. Com o
advento da filosofia do Gerenciamento de Projetos, tudo foi englobado, desde
processo – mercado – recurso humano. Eu, particularmente, acho, depois de anos
de experiência em qualidade, que tudo deveria ter iniciado no investimento na
qualidade dos profissionais, das pessoas, do ser humano, do cidadão. Deveria vir
primeiro a formação das pessoas, tornando-as "de qualidade" e é aí onde se
encontra a chave do sucesso nos empreendimentos e não só na tecnologia como até
então vem acontecendo.
Repórter - Mas para o Professor o que vem a ser um
profissional de qualidade?
Fischer - Na verdade, eu não tenho uma definição
pronta, talvez ela nem exista. Eu tenho uma idéia baseada na minha observação de
anos de experiência como engenheiro e como ser humano. Eu diria que para ser um
“profissional de qualidade” há necessidade de termos antes o que eu chamo de
“ser um cidadão de qualidade”. Esta é uma pessoa que exercita o respeito.
Uma pessoa que respeita outras pessoas, respeita o bem público, o bem privado,
respeita o meio ambiente global, as leis da sociedade, respeita a família, é,
portanto, um cidadão de qualidade. Este cidadão foi educado para discernir o que
é certo e o que é errado. Um cidadão de qualidade é aquele que tem
a consciência destes valores, uma consciência não só pontual, mas principalmente
sistêmica. O cidadão faz certo por que quer, ele carrega essa consciência e a
aplica constantemente em suas decisões, em todo o âmbito de sua vida. Vou mais
longe, eu diria que um cidadão nestas condições de educação poderia ser chamado
de “cidadão de qualidade auto-regulamentado”.
Repórter – Mas
professor, o senhor acha possível
atingir este grau de qualidade nos cidadãos na nossa caótica sociedade
brasileira.?
Fischer – Acredito sim,
pois já existem vários exemplos no mundo civilizado. Vamos citar a Alemanha onde
lá vivi algum tempo. Quando a Alemanha atingiu um contingente razoável de
cidadãos de qualidade auto-regulamentados, sua sociedade começou a se tornar
cada vez mais civilizada e justa. Uma sociedade respeitosa. Hoje a Alemanha é
uma sociedade social democrática auto-regulamentada. E por ser altamente
auto-regulamentada ela é considerada a mais socializada da Europa. A mais justa.
Este grau de maturidade que o povo alemão atingiu gera atitudes incompreensíveis
a nós brasileiros. Por exemplo: nos sistemas de transporte coletivo em todo o
País, ou seja, trens, metrôs, bondes elétricos, ônibus urbanos, não existe
roletas nem cobradores. E nem por isso o usuário deixa de pagar o bilhete. Não
ultrapassam o sinal, não avançam a faixa de pedestres, obedecem ás leis de
trânsito, pois antes de tudo, os motoristas são cidadãos que se orgulham de
pertencer a uma sociedade auto-regulamentada, organizada. O lixo é outro
exemplo. Que maravilha, tudo em seu lugar, cada rejeito em seu destino próprio.
Mais um exemplo curioso: os alunos universitários levam suas provas de avaliação
e resolvem em casa, tudo regido por códigos de ética auto-instituidos. As leis
do país são orgulhosamente obedecidas. Tudo isso orquestrado por uma consciência
do certo, do fazer certo.
Repórter – E o que a
sociedade pode ganhar tornando-se
auto-regulamentada?
Fischer – A gente nem
imagina o quanto! Vou citar somente alguns tópicos para não me alongar mais:
menos corrupção; menos acidentes urbanos e nas estradas; diminui o tamanho da
máquina governamental; diminui o custo público; diminui a sonegação; mais
decoro; mais justiça social; o PIB aumenta; menos conflitos entre as pessoas,
reduzindo o número de processos nos tribunais; menor custo social; melhora o
padrão e qualidade de vida. Todos ganham: sociedade - governo - meio
ambiente.
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