Martha de Freitas Azevedo Pannunzio
Bom dia, dona
Dilma!
Eu também assisti
ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera do Dia das Mães. Como cidadã
da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora de impostos escorchantes
descontados na fonte no meu contracheque de professora aposentada da rede
pública mineira e em cada Nota Fiscal Avulsa de Produtora Rural, fiquei
preocupada com o anúncio do BRASIL CARINHOSO.
Brincando de mamãe
Noel, dona Dilma? Em ano de eleição municipalista? Faça-me o favor, senhora
presidentA! É
preciso que o Brasil crie um mecanismo bastante severo de controle dos impulsos
eleitoreiros dos seus executivos (presidente da república, governador e
prefeito) para que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do
Brasil.
Setenta reais per
capita para as famílias miseráveis que têm filhos entre 0 a 06 anos foi um gesto
bastante generoso que vai estimular o convívio familiar destas pessoas, porque
elas irão, com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes
para “engordar” sua renda. Por
outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo para a cama produzir filhos de
cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida, um plano qüinqüenal engenhoso de
estímulo à vagabundagem, claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do
governo do PT.
É muito fácil dar
bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha, jogar para a platéia. É
fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha (que se governa, no seu caso)
irresponsavelmente.
Não falo pelos
outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora. Sou bastante madura,
bastante politizada, marxista, sobrevivente da ditadura militar e radicalmente
nacionalista. Eu jamais votei nem votarei num petista, simplesmente porque a
cartilha doutrinária do PT é raivosa e burra. E o governo é paternalista,
provedor, pragmático no mau sentido, e delirante. Vocês
são adeptos do “quanto pior, melhor”. São discricionários, praticantes do
“bullying” mais indecente da História do Brasil.
Em 1988 a
Assembléia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço espetacular, legou ao
Brasil uma Carta Magna bastante democrática e moderna. No seu Art. 5º está
escrito que todos são
iguais perante a lei*. Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele
completou esta disposição, enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras
de imposto seu modus governandi a partir do
qual todos são iguais
perante a lei, menos os que são diferentes: os beneficiários das cotas e das
bolsas-esmola. A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma,
negro é negro, pobre é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que vá
para a pqp. Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no
tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro quente, para não
deixar dúvida de que são mal-nascidos. Não
fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza, publicamente, uma
apartação étnica e social. E o PROUNI se
transformou num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de
qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação. Faculdades
capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter sido fechadas a bem da
moralidade, da ética e da saúde intelectual, empresarial, cultural e política do
País. A Câmara Federal endoidou? O Senado endoidou? O STJ endoidou? O
ex-presidente e a atual presidentA endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente
lutou por uma escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. A senhora
disse que estava lá, nesta trincheira, se esqueceu disto, dona Dilma? Oi, por
favor, alguém pare o trem que eu quero descer!
Uma
escola pública decente, realista, sintonizada com um País empreendedor, com uma
grade curricular objetiva, com professores bem remunerados, bem preparados,
orgulhosos da carreira, felizes, é disto que o Brasil precisa. Para ontem. De
ensino técnico, profissionalizante. Para ontem. Nossa
grade curricular é tão superficial e supérflua, que o aluno chega ao final do
ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de localizar a oração
principal de um período composto por coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe
regra de três. Não sabe calcular juros. Não sabe o nome dos Estados nem de suas
capitais. Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. Não é capaz de
fritar um ovo. O estudante e a estudantA brasileiros só servem para prestar
vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste. Nossos meninos e
jovens lêem (quando lêem), mas não compreendem o que leram. Estamos na
rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo isto com conhecimento de causa porque
domino o assunto. Fui a vida toda professora regente da escola pública mineira,
por opção política e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus
professores. A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é mineira (é?), sabe
disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma o que estou
informando.
Seu presente para
as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se anunciasse apenas duas
decisões: um programa nacional de planejamento familiar a partir do seu exemplo,
como mãe de uma única filha, e uma escola de um turno só, de doze horas. Não
sabe como fazer isto? Eu ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME.
Releia Anísio Teixeira. Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os governos
gaúcho e fluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT, Leonel
Brizola. Convide
o senador Cristovam Buarque para um café-amigo, mesmo que a Casa Civil torça o
nariz. Ele tem o mapa da mina.
A senhora se lembra
dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola em tempo integral, igual para
as crianças e adolescentes de todas as camadas, miseráveis ou milionárias.
Escola com quatro refeições diárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas,
evidentemente. Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado,
sombreado, prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos alunos e
abastecimento da cantina. Escola adequada para os de zero a seis, para
estudantes de ensino fundamental e para os de ensino médio, em instalações
individuais para um máximo de quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro,
virando a esquina de casa. De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia,
dona Dilma. No aerolula dá pra chegar num piscar de olhos. Vá até lá ver como
se gerencia a educação pública com responsabilidade e resultado. Enquanto os
finlandeses amam a escola, os brasileiros a depredam. Lá eles permanecem. Aqui a
evasão é exorbitante. Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem
analisa. Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita por
qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente. Povo
educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, adoece menos e recolhe
mais imposto para as burras dos governos. Vale à pena investir mais em educação
do que em caridade, pelo menos assim penso eu, materialista
convicta.
Antes que eu me
esqueça e para ser bem clara: planejamento familiar não tem nada a ver com
controle de natalidade. Aliás, é a única medida capaz de evitar a legalização do
controle de natalidade, que é uma medida indesejável, apesar de alguns países
precisarem recorrer a ela. Uberlândia, inspirada na lei de Cascavel, Paraná,
aprovou, em novembro de 1992, a lei do planejamento familiar. Nossa cidade foi a
segunda do Brasil a tomar esta iniciativa, antecipando-se ao SUS. Eu, vereadora
à época, fui a autora da mesma e declaro isto sem nenhuma vaidade, apenas para a
senhora saber com quem está falando.
Senhora PresidentA,
mesmo não tendo votado na senhora, torço pelo sucesso do seu governo como mulher
e como cidadã. Mas a maior torcida é para que não lhe falte discernimento, saúde
nem coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso. A primeira
chibatada é o seu veto a este Código Florestal, que ainda está muito ruim,
precisado de muito amadurecimento e aprendizado. O planeta terra é muito mais
importante do que o lucro do agronegócio e a histeria da reforma agrária fajuta
que vocês estão promovendo. Sou fazendeira e ao mesmo tempo educadora
ambiental. Exatamente por isto não perco a sensatez. Deixe o Congresso pensar
um pouco mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília, bem instalados e
bem remunerados, para isto mesmo. E
acautele-se durante o processo eleitoral que se aproxima. Pega mal quando um
político usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada. Outros
usaram? E daí? A senhora não é “os outros”. A senhora á a senhora, eleita pelo
povo brasileiro para ser a presidentA do Brasil, e não a presidentA de um
partidinho de aluguel, qualquer.
Se conselho fosse
bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro. Assim
mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães excluídas do seu
presente: as mães da classe média baixa, da classe média média, da classe média
alta, e da classe dominante, sabe por quê? Porque somos nós, com marido ou sem
marido, que, junto com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores de
impostos, sustentamos a carruagem milionária e a corte perdulária do seu governo
tendencioso, refém do PT e da base aliada oportunista e voraz.
A senhora,
confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários da Bolsa-família? Os
muitos que eu conheço se recusam a aceitar qualquer trabalho de carteira
assinada, por medo de perder o benefício. Estou firmemente convencida de que
este novo programa, BRASIL CARINHOSO, além de não solucionar o problema de
ninguém, ainda tem o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social,
sem qualificação profissional, que não levará nosso País a lugar nenhum. E, o
que é mais grave, com o excesso de propaganda institucional feita
incessantemente pelo governo petista na última década, o Brasil está na mira dos
desempregados do mundo inteiro, a maioria qualificada, que entrarão por todas as
portas e ocuparão todos os empregos disponíveis, se contentando até mesmo com a
informalidade. E aí os
brasileiros e brasileiras vão ficar chupando prego, entregues ao deus-dará, na
ociosidade que os levará à delinqüência e às drogas.
Quem cala,
consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos, o que eu mais queria era
poder envelhecer despreocupada, apesar da pancadaria de 1964. Isto não está
sendo possível. Apesar de ter lutado a vida toda para criar meus cinco filhos,
de ter educado milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos
meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação que deu a todos
a obrigação de votar e o direito de votar e ser votado, mas gostou da sacanagem
de manter a maioria silenciosa no ostracismo social, desprecisada e
desinteressada de enfrentar o desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o
pão com o suor do seu rosto. Sem dignidade, mas com um título de eleitor na mão,
pronto para depositar um voto na urna, a favor do político paizão/mãezona que
lhe dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés de ensinar a pescar, esta foi a
escolha de vocês.
A senhora não pediu
minha opinião, mas vai mandar a fatura para eu pagar. Vai. Tomou esta decisão
sem me consultar. Num país com taxa de crescimento industrial abaixo de zero,
eu, agropecuarista, burro-de-carga brasileiro, me dou o direito de pensar em
voz alta e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na cabeça dos
miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz nove anos, pense bem!
Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, o bolsa-família, o
vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais. Esta sangria nos cofres
públicos não salvou ninguém? Não refrescou niente? Gostaria que a senhora me
mandasse o mapeamento do Brasil miserável e uma cópia dos estudos feitos para
avaliar o quantitativo de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do
anúncio do BRASIL CARINHOSO. Quero fazer uma continha de multiplicar e outra de
dividir, só para saber qual a parte que me toca nesta chamada de capital.
Democracia é isto, minha cara. Transparência. Não ofende. Não
dói.
Ah,
antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE. Não sou impertinente nem
desrespeitosa, sou apenas professora de latim, francês e português. Por favor,
corrija esta informação.
Se eu mandar esta
correspondência pelo correio, talvez ela pare na Casa Civil ou nas mãos de algum
assessor censor e a senhora nunca saberá que desagradou alguém em algum lugar.
Então vai pela internet. Com pessoas públicas a gente fala publicamente para que
alguém, ciente, discorde ou concorde. O contraditório é muito
saudável.
Não gostei e
desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me incomoda. R$2,00 (dois reais) por
dia para cada familiar de quem tem em casa uma criança de zero a seis anos, é
uma esmolinha bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma? Carinho
de presidentA da república do Brasil neste momento, no meu conceito, é uma
campanha institucional a favor da vasectomia e da laqueadura em quem já produziu
dois filhos. É mais creche institucional e laica. Mais escola pública e laica em
tempo integral com quatro refeições diárias. É professor dentro da sala de aula,
do laboratório, competente e bem remunerado. É ensino profissionalizante e gente
capacitada para o mercado de trabalho.
Eu podia vociferar
contra os descalabros do poder público, fazer da corrupção escandalosa o meu
assunto para esta catilinária. Mas não. Prefiro
me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais grave, que é um desvio de conduta
de líderes políticos desonestos, chamado populismo, utilizado para destruir a
dignidade da massa ignara. Aliciar as classes sociais menos favorecidas é
indecente e profundamente desonesto. Eles são ingênuos, pobres de espírito,
analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como qualquer cidadão
produtivo, pagador de impostos. Esta é a jogada. Suja.
A televisão mostra
ininterruptamente imagens de desespero social. Neste momento em todos os países,
pobres, emergentes ou ricos, a população luta, grita, protesta, mata, morre,
reivindicando oportunidade de trabalho. Enquanto isto, aqui no País das
Maravilhas, a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de
estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da História, dona
Dilma!
Pode ter certeza de
que a senhora conseguiu agredir a inteligência da minoria de brasileiros e
brasileiras que mourejam dia após dia para sustentar a máquina extraviada do
governo petista.
Último
lembrete: a pobreza é uma conseqüência da esmola. Corta a esmola que a pobreza
acaba, como dois mais dois são quatro.
Não me leve a mal
por este protesto público. Tenho obrigação de protestar, sabe por quê? Porque,
de cada delírio seu, quem paga a conta sou eu.
Atenciosamente,
Martha de Freitas
Azevedo Pannunzio
Fazenda Água Limpa,
Uberlândia, em 16-05-2012
marthapannunzio@hotmail.com CPF nº
394172806-78
*CONSTITUIÇÃO
FEDERAL
TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
I - homens e
mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
Nenhum comentário:
Postar um comentário