POR GUSTAVO PEREIRA DA SILVA
Eu não voto em Carlito Merss. A pergunta parece fácil de ser respondida, mas não é. Na década de 90, então aluno da Escola Técnica Tupy, namorei a filha de um ex-funcionário graduado da Fundição Tupy, amigo de Carlito. Quando ele era o assunto nas reuniões de família, a impressão era que se falava de um semideus. Eram só elogios. Carlito era o exemplo. Carlito era disciplinado. Carlito era arrojado. Carlito era o cara.
Não o conheci o santo, mas iniciada a fase universitária no Curso de Engenharia da UDESC, passei a observar pelos jornais os passos do iluminado. Movimento sindical, Câmara de Vereadores, deputado estadual, deputado federal, relator do Orçamento da União. Nunca fui eleitor declarado do Carlito, mas confesso que já admirei e muito sua pessoa. Precisávamos de sangue bom na política e Carlito era o exemplo para muitos como eu - um imigrante que chegou em Joinville com a roupa do corpo e a vontade de trabalhar.
A visão olímpica começou a cair em 2005 quando estourou o escândalo do mensalão. Acostumada a jogar laranjas nos adversários, a agremiação passou a levar laranjadas - e das grossas. Acompanhei pela internet as sessões no Congresso, depoimentos e a desfaçatez dos cardeais envolvidos. A imagem do semideus ruiu quando assisti o então deputado federal Carlito Merss (e a ministra Ideli Salvatti) ser(em) escalado(s) para defender o indefensável escândalo, em sessões no Congresso Nacional.
Foi um desrespeito para nós, eleitores catarinenses. Mas, embalado pelo governo populista do ex-presidente Lula, Carlito Merss chegou ao poder em 2009, com a promessa viva da mudança, que nunca se revelou. Passados quase quatro anos da sua administração, o prefeito ainda não disse a que veio. Detentor do toque de Midas inverso e índices de rejeição nababescos, tornou-se o melhor cabo eleitoral de seus adversários. Nas redes sociais pulula a máxima jocosa que a atual administração não consegue dar uma dentro. Soa injusta a alusão, mas vamos ver...
No primeiro ano de Governo, tivemos o maquiavélico aumento do IPTU, taxando os humildes proprietários de imóveis sem calçada. No segundo e terceiros anos, greve e insatisfação generalizada dos professores e no serviço público como um todo. Problemas na saúde pública. Disputa com os camelôs. Escolas interditadas, obras de esgotamento sanitário que se assemelham à campos de guerra, espalhados pelos quatro cantos de Joinville. A agonizante Rua Timbó. Problemas no IPREVILLE. Avenidas e ruas esburacadas. As flores e canteiros mal cuidados. Museus e bibliotecas fechados. Desabamento de telhados em espaços públicos. Secretarias regionais que não funcionam a contento porque faltam recursos.
Até na formulação das bases da lei de ordenamento do solo urbano o prefeito enfrentou desgastes. Pagou para ver e, por enquanto, perdeu a batalha na Justiça para as nanicas associações de moradores, tendo que admitir, perante a Promotoria de Justiça, que algo não andou bem no Conselho da Cidade.
Em suma, não voto no Carlito, porque o candidato abandonou suas bandeiras, esqueceu suas origens, relevou promessas e compromissos na eleição anterior, cercando-se de néscios inexperientes e desinformados. Enfeitiçado pelo poder, reproduziu modelos políticos de comportamento de seus antecessores, que tanto condenava. O cavalo encilhado passou e a oportunidade ímpar de demonstrar à população suas qualidades, predicados e seu inegável carisma foi-se. Dizem que a unanimidade é burra, mas para este articulista há uma única certeza: nós, joinvilenses, definitivamente, estamos anestesiados, pois os pirulitos de morango travestidos de luminárias espalhados nas ruas e avenidas representam a cereja do bolo, o coroamento desta gestão.
Que venham as eleições.
Gustavo Pereira da Silva é advogado e Presidente da Associação Viva o Bairro Santo Antônio
Nenhum comentário:
Postar um comentário