Carlos Newton
(TRIBUNA DA IMPRENSA)
A
grande imprensa brasileira, como todos sabem, está curvada aos interesses
internacionais. Não é um fenômeno atual ou passageiro. Na verdade, a mídia
sempre defende os interesses do sistema financeiro e dos grupos econômicos que
efetivamente detêm o Poder, pois o barões da mídia oferecem seus serviços a quem
possa lhes garantir lucratividade.
É
apenas uma questão empresarial. Negócios são negócios, todos sabem. Algumas
vezes, os interesses do governo e dos grupos econômicos são os mesmos e até se
confundem, como ocorreu nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, continuou
acontecendo nos mandatos de Lula e também no governo atual de Dilma
Rousseff.
Basta analisar o que está acontecendo
no que se refere à questão indígena e à Amazônia. Está em curso um movimento da
maior importância, que não é noticiado com destaque na imprensa. Não se vê esse
assunto em nenhuma manchete de jornal ou em programa de televisão, nem mesmo na
imprensa estatal (Agência Brasil), que antigamente se chamava Agência Nacional,
ou na TV estatal (Rede Brasil), que antigamente se chamava
TVE.
Os jornalistas dessas organizações
(Agência Brasil e Rede Brasil) deveriam trabalhar para o Estado, defendendo os
interesses nacionais, mas na verdade trabalham apenas para o governo, defendendo
apenas os interesses de quem está no Poder, o que é muito
diferente.
Em toda a mídia, seja estatal ou
privada, raramente se lê alguma matéria relatando que as diferentes tribos
indígenas estão exigindo que o Brasil reconheça e obedeça os termos da
Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Não se fala nisso, é um
assunto tabu.
O
fato é que em 2007 os representantes do Brasil na ONU assinaram esse importante
tratado internacional, que declara a independência administrativa, política,
econômica e cultural das chamadas nações indígenas, que se tornariam países
autônomos, com leis próprias, e nem mesmo as Forças Armadas brasileiras teriam o
direito de entrar em seus territórios.
O
governo brasileiro assinou e depois se arrependeu, mas já era tarde. Será que os
diplomatas não perceberam que estavam concedendo autonomia a 216 nações
indígenas, que já detêm mais de 10% do território nacional? É difícil de
acreditar, porque durante anos de negociações o Itamaraty sempre repudiou
o tratado, que foi assinado pelo Brasil no governo Lula, quando Celso Amorim era
ministro das Relações Exteriores.
O fato de o Brasil ter aceitado sem
ressalvas o acordo internacional, que foi rejeitado ou assinado com ressalva por
vários países, como Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Rússia e
Argentina, é um dos motivos do baixo prestígio de Celso Amorim junto à cúpula
das Forças Armadas.
Na época, preocupado com a gravidade
da falha da diplomacia brasileira, que assinou o tratado sem ressalvas, estive
pessoalmente no Congresso, e foi grande a surpresa dos parlamentares, quando
levantei o assunto. No PT, ninguém sabia nada a respeito. Os principais
deputados, como João Paulo Cunha e Arlindo Chinaglia, desconheciam inteiramente
o assunto.
Procurei então parlamentares da
oposição e que se interessam na defesa da Amazônia, como os senadores Mozarildo
Cavalcanti (PTB-RR) e Artur Virgilio (PSDB-AM), também não sabiam de nada.
Encontrei no Salão Verde da Câmara o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que diz
defender os interesses nacionais, mas também não tinha a menor idéia sobre o que
estava acontecendo, acreditem se quiserem.
Escrevi então uma série de reportagens
a respeito na Tribuna da Imprensa, inclusive relatando a firme atuação da
Maçonaria contra o Tratado da ONU, e a questão passou a ser discutida nos
bastidores do Poder, porque nenhum outro grande jornal ousou tocar no
assunto.
É
incrível, mas são fatos verdadeiros e sem contestação. Os quatro parlamentares
citados estão vivos, três deles continuam no Congresso. Apenas Artur Virgilio
não foi reeleito.
E
acontece que na Câmara e no Senado ninguém sabia nada, porque o importantíssimo
assunto foi abafado pela grande imprensa e o governo Lula nem teve coragem de
enviar ao Congresso o tratado internacional, que precisa de ratificação do Poder
Legislativo.
Como o Tratado da ONU ainda não tinha
sido enviado ao Congresso, no ano passado entrei em contato com o gabinete do
senador Fernando Collor, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional, e mandei uma série de perguntas sobre o assunto, ele nem
respondeu.
A
presidente Dilma Rousseff também está segurando o tratado na gaveta. Se o
governo brasileiro já estivesse cumprindo integralmente os termos da Declaração
da ONU, nem estaria em discussão o contrato assinado por índios do Pará, que
venderam por US$ 120 milhões os direitos sobre uma área no Estado. O contrato
foi firmado com a empresa irlandesa Celestial Green
Ventures.
Ao mesmo tempo, não se noticia que as
tribos indígenas da chamada Amazônia Legal, que detêm cerca de 25% do território
brasileiro de reserva ambiental, onde é proibida atividade econômica, estão
mobilizadas para defender a mineração nessas áreas de preservação. E não se
trata de um movimento brasileiro, mas de caráter
internacional.
Representantes de etnias do Brasil, da
Colômbia, do Canadá e do Alasca chegaram a preparar uma "carta declaratória" aos
governos brasileiro e colombiano, reivindicando os direitos indígenas à terra e
o apoio à mineração.
"Solicitamos ao Estado brasileiro a
aprovação da regulamentação sobre mineração em territórios indígenas, porque
entendemos que a atividade legalmente constituída contribui com a erradicação da
pobreza", diz o documento.
Se o tratado da ONU for cumprido, as
tribos nem precisam reivindicar o direito de mineração em suas respectivas
reservas, porque serão países independentes, segundo os incisivos termos da
Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, que está disponível a
todos na internet, mas poucos se interessam em
ler.
O pior é que, mesmo se o governo
brasileiro continuar sem cumprir o mandato, poderá ser obrigado a fazê-lo,
porque as tribos indígenas já estão procurando os tribunais internacionais da
OEA e da própria ONU, para exigir a "autonomia política, econômica e social" que
os diplomatas brasileiros gentilmente lhes
concederam.
E agora em junho, na Conferência da
ONU sobre Meio Ambiente, a ser realizada no Rio, o principal assunto será a
criação do Tribunal Internacional do Meio Ambiente, que terá poderes de
sancionar países infratores, como é o caso específico do Brasil. Nossos
diplomatas vão adorar. Já podemos ver o Celso Amorim a bater palmas para a
ONU.
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21 de abril de 2012
Entendam por que a questão indígena tornou-se grave ameaça à soberania nacional.
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CONDOMÍNIOS SUSTENTÁVEIS
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