Moro em Florianópolis e combinei de ir ao Monte Crista com alguns amigos da minha cidade natal – Joinville.
Localizada no norte do estado de Santa Catarina, no município de Garuva, esse monte tem 967 metros de altitude e está ligada à cadeia de montanhas do santuário ecológico da Serra do Mar.
Cercada pela Mata Atlântica, é um monte cheio de lendas e estórias incríveis e conta com uma grande escadaria de pedra e monumentos que, acredita-se, serem feitas pelo povo Inca. Esse caminho já foi usado pelos Jesuítas enquanto estavam do nosso estado, no século XVI.
Cheguei em Joinville por volta das dez da noite de quinta-feira. Encontrei meu amigo na rodoviária conforme anteriormente combinado. A idéia era dormirmos e nos levantarmos no meio da manhã para fazer os preparativos da aventura.
Acordamos perto das onze e, seguindo orientação de meu amigo Marcos, resolvemos sair para comprar um saco de dormir. Por inexperiência, tinha trazido um cobertor grosso e uma manta, para usar como forro e para me cobrir; porém além de pesados e extremamente volumosos não garantiriam conforto e nem proteção eficiente contra o frio.
Fomos a um desses grandes supermercados e compramos um saco de dormir de meia estação (R$ 75) e conseguimos emprestado um isolante térmico; imprescindível para quem vai dormir em barraca, principalmente quando a mesma for montada em cima de chão de barro ou grama – durante a noite o solo fica extremamente gelado, ainda mais no nosso caso onde estaríamos acampando em um monte de 100 metros com constantes ventos fortes.
Almoçamos e nos preparamos para sair pontualmente às duas da tarde. Iríamos com mais três pessoas, sendo que outras quatro já estavam lá no local desde quarta à noite.
Quando estávamos prontos para sair, uma amiga que iria conosco ligou avisando que só poderia ir depois das seis da tarde e perguntou se não poderíamos acompanhá-la. Diante do solicitado, fazia parte do nosso cavalheirismo aceitar a convocação, enquanto os outros iriam no horário previsto. Esse fato mudou toda a idéia, porque iríamos chegar no local no começo da noite, subiríamos no escuro e estava ainda com cara que também iria chover.
Conforme combinado, fomos para a rodoviária, compramos as passagens até a balança da polícia rodoviária, a caminho de Garuva e aguardamos a chegada de nossa amiga. Enquanto esperávamos, ela ligou avisando que tinha conseguido carona e nos empenhamos em vender nossas passagens adquiridas, uma vez que não eram aceitas de volta.
Conseguindo vender duas passagens das três que compramos, fomos de carro até o local.
Chegando na balança, atravessamos a BR e entramos na rua caminho do Monte, indicado um grande portal de madeira.
Caminhamos cerca de uma hora até o rio que precisa ser atravessado por uma ponte, que fica no terreno de um morador que possui uma barraca onde pode-se comprar lanches. Esse morador solicita que se faça um cadastro colocando nome, endereço e intenções de permanência no local, assim como telefones para contato de casa e da família. É cobrada uma taxa simbólica de dois reais para realizar a travessia pela ponte.
Seguindo pela ponte caminhando por uma vegetação rasteira e de caminho bem marcado, há outro rio de fácil travessia pelas pedras e depois dele aos poucos vai se entrando na mata mais fechada.
São quase duas horas de caminhada não muito pesada com algumas subidas e faixas de água cortando o caminho, servindo para se encher o cantil. Chegamos a um pequeno platô e seguimos ao primeiro trecho pesado da trilha, o que é chamado de saboneteira. A saboneteira é de travessia pesada, íngreme, que precisa ser executada com cuidado, pois é extremamente úmida e cheia de lama. No momento em que subíamos a mata toda fechada dificultava a visão, mesmo cada um tendo sua lanterna. Começou a chover e a lama aumentou. Conseguíamos enxergar apenas o foco de luz da lanterna, que era apontado sempre para o chão, verificando aonde poderíamos dar o próximo passo. Eram onze e meia quando chegamos ao final da saboneteira, em um grande platô chamado de clareira. Até este ponto, é considerada a metade do caminho, a primeira etapa.
Paramos, comemos e bebemos, permanecendo ali não mais que 20 minutos. Cessou momentaneamente de chover, e a lua cheia apareceu toda maravilhosa no céu. Apesar de muita gente achar besteira, a trilha tem um ar diferente, uma atmosfera estranha. O visual estava lindo.
Seguimos a trilha para a parte mais difícil do trajeto: a escadaria que os Jesuítas utilizavam para realizar o caminho, que muitos acreditam ser ela feita pelos Incas.
Toda irregular, com degraus em desnível, a subida pela escadaria é tortuosa, ainda mais com cerca de 15 kg de peso da mochila. Há trechos onde é necessário usar as mãos de tão íngreme. Por causa do frio, toda parada para descanso não podia ser longa, pois começávamos a tremer. A escadaria é extensa – quando pensávamos que ela iria acabar, íamos para um lado e logo víamos sua continuação. Demoramos duas horas e meia para chegar ao topo e encontramos nossos amigos que foram à tarde. Ao todo foram sete horas e meia de caminhada.
Em cima do monte, estava uma neblina terrível e muito frio. O vento também estava bem forte.
Como troféu dos campeões, armei nossa barraca e troquei minha roupa suja por uma quente e limpa. Tomei um pouco de vodka para esquentar o peito e após 20 minutos de conversa furada e desinteressada, fomos dormir.
A manhã apareceu aos poucos, estava bem nublado e frio. O vento parecia que ia quebrar a barraca (mesmo porque era fraca, de camping).
Ficamos ali durante o dia conhecendo o monte andando pelas trilhas que ficam lá em cima. Há alguns pequenos riachos, onde se pode pegar água para cozinhar e beber.
Passamos mais uma noite e voltamos domingo por volta do meio dia. A volta foi rápida. Eu e o Marcos fizemos em 2 horas e meia e os mais demorados fizeram em três horas.
Chegamos no rio, tomamos banho e trocamos de roupa para voltar à cidade. O único inconveniente é que na beira da estrada, durante duas horas que ficamos, não passou nenhum ônibus. Alguns moradores disseram que tinha, mas o fato é que acabamos pedindo para que o pai de um amigo viesse nos buscar.
Altas aventuras.
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